Crônicas
“O menino Stefano”
Sexta feira à noite, cruzamento da Prudente de Morais com a Antonio Basílio. Parecia mais uma cena de tantas outras que nos acostumamos a ver nas ruas e semáforos da nossa cidade: crianças e adolescentes , abandonados , negligenciados, mal-tratados. Realmente parecia uma cena comum se ali naquele cruzamento não estivesse o menino Stefano. Sei o seu nome, pois o conheci e o acompanhei quando abrigado na Casa de Passagem II. Meigo,educado, sorriso simples.Fala mansa.Tivemos oportunidade de conversar por várias vezes. Abracei-o. Beijei-o. Dei amor, carinho, afeto,atenção. Recebi tudo isso em troca. Stefano, assim como outras crianças da Casa que tive oportunidade de conhecer , deixou sua marca registrada na minha memória.Completou 12 anos e mudou-se para a Casa de Passagem III. Nunca mais o vi, mas sempre perguntava por ele . A sua fisionomia, o seu jeito, rondavam a minha mente. Meses se passaram desde o nosso último contato.
Quiz o destino que me reencontrasse com Stefano perambulado pelas ruas de Natal, precisamente em um semáforo de um grande cruzamento da cidade. Tudo foi muito rápido.Parei no sinal, quando de repente me vem aquela criança , hoje adolescente, se dirigindo para pedir alguns trocados. A fisionomia não me era estranha. Sabia que conhecia aquele menino de algum lugar , mas a película escura no vidro do carro e o seu aspecto deixavam pequenas dúvidas . Aproximou-se lentamente, baixei o vidro e o reconheci. Meu Deus! Nao quiz acreditar no que estava vendo.Tão diferente se encontrava aquele menino!. Era um outro Stefano: mal tratado, emagrecido, sofrido, olhar triste. !!!.. Na esperança de que pudesse estar enganado, que fosse outra pessoa, perguntei o seu nome: baixou a cabeça e os olhos, e mansamente falou: Stefano. Indaguei-lhe:Tá me conhecendo? Olhou no meu rosto, após alguns segundos pronunciou o meu nome (Dr. Leonardo!), e disse-me que estava com fome. O sinal abriu . Sai “chocado” com o que acabara de presenciar. Tinha um destino a seguir. Porém, a consciência e o coração falaram mais alto, interrompendo meu caminho. Precisava fazer algo por aquele menino.Não titubiei! Voltei ao mesmo sinal por duas vezes e não mais vi Stefano. Sumiu, “escafedeu-se”. Talvez tenha passado por sua cabeça que pudesse levá-lo de volta a Casa de Passagem. Mero engano, meu amiguinho, não podia e jamais faria isso. Me desculpe se aventou esta possibilidade!
Sem condições de oferecer mais qualquer tipo de ajuda naquele momento, segui então em direção ao meu caminho. Não sei quando vou me encontrar com Stefano, não sei qual vai ser o seu destino, mas gostaria muito de poder ajudá-lo a ser alguém na vida. Durante o contato que tive na Casa de passagem II , fiz a minha parte, conversei, orientei, mostrei as coisas boas. Espero que outras pessoas que cruzem sua trajetória façam o mesmo, e que lá de cima seja dada também uma ajudazinha. Caso não mais o veja , gostaria, pelo menos, que ele soubesse que nesta vida, teve alguém que lhe olhou de uma forma diferente , com outros olhos; na verdade um olhar diferenciado, sem preconceitos,barreiras ou medos. Quiçá, um dia, mesmo que no cruzamento de um sinal, possa a vir lhe dizer , ei menino:
Eu não sei parar de te olhar
Eu não sei parar de te olhar
Não vou parar de te olhar
Eu não me canso de olhar
Não sei para de te olhar.
Eu não sei parar de te olhar
Não vou parar de te olhar
Eu não me canso de olhar
Não sei para de te olhar.
(Ana Carolina)
Leonardo Moura Ferreira de Souza
Leonardo Moura Ferreira de Souza
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